Motivar ou inspirar?


Um tema dos mais instigantes, a motivação é fator fundamental para a felicidade de qualquer indivíduo. Ter filhos, mudar de emprego, casar, estudar, aceitar promoção e até aceitar uma crítica, tudo precisa de motivação. Mas esta motivação é interior ou exterior, qual a sua fonte?

Fala-se muito em líderes inspiradores, que transformam a realidade, que conectam pessoas a metas e objetivos, a realizações. Mas, esses líderes inspiradores existem em número suficiente para inspirar os supostamente “não inspirados”? Ou seja, o sucesso, a felicidade e as realizações dependem sempre de motivação externa? Será que está certa a temática de que a motivação é fruto cuja semente é plantada por “terceiros”? E o protagonismo do próprio indivíduo durante a jornada?

Se o caminho for aceitar a motivação oriunda do mundo exterior, a inspiração de colaboradores é tarefa para um bom gestor que, ao alcançar esse feito, consegue deles sua melhor versão. Uma vez inspirado, o colaborador entende que sua contribuição faz diferença para o trabalho e passa a ver sentido em suas atividades. Para a empresa, os benefícios refletem na produtividade, em redução no número de faltas e atrasos e até na capacidade dos funcionários em aprender e propor inovações.

Para alcançar essa liderança inspiradora, o gestor precisa estar próximo do funcionário, promover interação, guiá-lo e expor o propósito de cada atividade a ser executada. Mostrar-se acessível para que a comunicação seja transparente e efetiva, de forma a aumentar a satisfação com o trabalho, também é essencial para inspirar equipes.

Outro ponto-chave é estabelecer confiança e, para isso, é condição básica necessária ser autêntico e estar disponível para orientar, tirar dúvidas, sugerir alternativas para a solução de problemas e aportar conhecimento, com calma e racionalidade, para transpor um desafio.

Todo estímulo deve ser dado de maneira individual e personalizada, de forma a satisfazer as demandas pessoais do colaborador. Além de avaliar o clima organizacional para saber se o ambiente de trabalho é saudável, é preciso dar feedbacks para as atividades requeridas, sempre que possível. Esse tratamento demonstra apreço e faz o colaborador se sentir valorizado.

Porém, se o caminho for admitir que a motivação, antes da externa tem que ser a interna, mudamos o foco. O mundo seria mais democrático, porque mais pessoas estariam contribuindo para a melhora geral, como participantes ativos do processo de transformação. Em vez de esperarem o “messias”, cada um alimentaria dentro de si a motivação necessária para fazer o que entende ser importante.

Ao líder ou ao escolhido para ocupar um posto hierárquico de destaque, caberia apenas direcionar o automotivado colaborador. Em tempos de startups ágeis, rompedoras do status quo, a automotivação seria apenas direcionada por terceiros para ajuste aos propósitos maiores do sistema em que se está inserido. Em outras palavras, o indivíduo não deve colocar as esperanças no “outro”, mas em sua capacidade de ser protagonista, dentro do sistema em que atua, não importa qual seja ele.

Enfim, em um mundo corporativo em que se fala muito em líderes inspiradores, não seria hora de voltarmos para o indivíduo e discutirmos o que cada um pode e deve fazer, sem tamanha dependência dos “messias” de plantão? A provocação é válida se entendermos que o mundo vai funcionar melhor com mais diversidade, com mais ideias, com mais pessoas contribuindo para o todo.

Líderes são bons e precisamos deles, mas não precisamos subjugar a capacidade individual. Ela precisa ser recolocada em seu devido patamar. Se pararmos para pensar, o mundo atual caminha para corporações gigantes com poder imenso. Não seria melhor um mundo mais plural, com mais vozes para determinar os caminhos? Isso começaria por uma busca de cada um pela automotivação, para o que precisa ser feito. Vale lembrar um texto bíblico do antigo testamento, quando o povo pedia um “Rei”. A fascinante história está no Livro de Primeiro Samuel, versículo oitavo. Deus alerta o povo: cuidado com a submissão, ela produz consequências negativas. Voltando ao ambiente corporativo, quando pensar em motivação, em vez de esperar que ela venha somente do mundo exterior, de um líder, pense em você mesmo e na sua capacidade de propor mudanças e de liderar a si mesmo. Pode ser o início de uma grande mudança, tanto no plano individual como na vida das corporações. Estamos preparados para a democracia verdadeira? Vale refletir!

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