Uma visão que de longa data permeia as mentes de empresários é a de que a contabilidade só existe para atender ao Fisco. Somente custo. Podemos afirmar até que muitos empresários de bom porte têm essa opinião. Em parte, e talvez em boa parte, temos, nós contadores, culpa nisso na medida em que aprendemos que a função da contabilidade é a de “apenas registrar os atos e fatos” das empresas.
No entanto entendemos que devamos, nós contadores, agregar a cada dia mais a palavra “consultiva” ao termo “contabilidade”. Contabilidade Consultiva deve ser nosso foco. E a razão é simples: por que não mostrar aos gestores da empresa a riqueza de informações que se obtém ao exportar o banco de dados do faturamento e trabalhar esses dados numa planilha?
O resultado será uma pesquisa riquíssima e, o melhor, grátis! Ali poderá ser apreendido: quem compra; quando compra; o que compra; em que região geográfica se encontra nosso cliente; qual associação de produtos ele costuma fazer; qual a periodicidade de suas compras; uma curva ABC de clientes ou mesmo de produtos; se há regionalização de algum produto que direcione nossas campanhas de comunicação, etc. É um sem fim de dados que podem ser levantados.
Por isso, empresários, fica a sugestão: que tal o contador (área fiscal) ter assento à mesa no momento do estudo do lançamento de produto e daí já encontrar a mais adequada classificação fiscal e projeção de resultados reais após impostos?Ou ainda, que se extraiam tendências da empresa pela análise dos resultados acumulados mensalmente obtidos?Em demonstrativos bem analisados, ficam evidentes informações importantes como eventuais ralos, assim como oportunidades de ganho com reforço de ações.
E devo dizer que essa nossa sugestão envolve desde as “pejotas” até médias empresas comerciais, industriais ou de serviços.
Sim, a contabilidade pode contribuir e muito na gestão, não importa o porte da empresa. Porém, não poderia deixar de mencionar que há ações essenciais para que isso aconteça. Nosso recado então aos empresários e gestores é: enviem toda, reforço toda, a documentação para seu contador. De forma especial o extrato bancário, que é o documento base para a segurança de todo o processo. E mais: enviem logo ao início do mês subsequente.
Aos contadores: há necessidade de que os balancetes estejam disponíveis o quanto antes, pois rapidamente ficarão ultrapassados.
Há ainda um importante viés prático que devemos ressaltar aplicável às“pejotas”.
Atualmente, os lucros e dividendos pagos ou creditados aos sócios por empresas optantes pelos regimes do Lucro Presumido ou Simples Nacional estão isentos do Imposto de Renda, desde que atendidos alguns critérios. O ponto de atenção é a manutenção da escrituração contábil, independentemente do porte da empresa. Se a empresa mantiver apenas o Livro Caixa (não efetuar a escrituração contábil), a isenção no pagamento de lucros e dividendos fica limitada ao valor de presunção do lucro, após deduzidos os tributos federais incidentes.
Para simplificar o entendimento, podemos dizer que as empresas prestadoras de serviço poderiam distribuir lucros isentos no valor máximo de32% do faturamento líquido de impostos, e as comerciais e industriais, apenas8% do faturamento, também líquido de impostos.
Vamos tentar colocar isso em números. Empresa de serviços que fature no ano R$ 120.000,00, mil recolherá R$ 7.200,00 de impostos. E digamos que essa empresa tenha R$ 1.700,00 de despesas. Caso possua contabilidade regular, poderá distribuir a totalidade dos R$ 111.100,00 mil a título de lucros isentos. Essa mesma situação de faturamento e despesas em empresa que opte pelo uso do Livro Caixa poderia distribuir somente R$ 36.096,00 –equivalente a 32% do faturamento líquido de impostos.
Caso o empresário opte por receber os restantes R$ 75.004,00, haveria que tributar pela tabela de Imposto de Renda na fonte que pode chegar a uma alíquota de 27,5%. Já há manifestação em respostas de consultas para a Receita Federal nesse sentido.
Por todas as razões acima e, por outras que deixamos de comentar para não nos alongarmos, fica evidente que a opção pela contabilidade regular é a que mais atende aos interesses dos empresários.
Luciene D’Alexandre, sócia da Planned Soluções Empresariais. Artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo