Ari Marques, executivo na Planned Soluções Empresariais. Mais de 40 anos de experiência em gestão de empresas.
Artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo
Exato, sou assim, e acrescento que não leio mensagens que ocupem mais de uma tela no celular. Mas, fala sério, não estou sozinho nessa, não é mesmo? Muitos daqueles com quem convivo têm essa mesma postura.
Ou seja, nos tempos atuais é preciso exercer um poder que parece andar em falta: o de síntese. Difícil? Nem tanto. Vejam que no twitter, por exemplo, ficamos limitados e nos adaptamos.
Mas a questão muda totalmente de figura quando falamos de outras formas de partilhar ou adquirir conhecimento, que não os breves posts das redes sociais.
Há algum tempo defendo uma tese – e sobre ela já escrevi no passado – que resumo em uma pergunta: Por que alguns insistem em não aprender com a experiência de outros? Por que, já que relatos dessas experiências estão à nossa disposição o tempo todo: livros, artigos, podcasts, teds, lives? Esses, sim, são meios que merecem nossa atenção demoradamente.
O resumo de meu pensamento pode ser obtido neste texto que fez, e faz, história e que recupero de um meu artigo anterior:
“…considerando que não lhe posso fazer maior presente que lhe dar a faculdade de poder em tempo muito breve aprender tudo aquilo que, em tantos anos e à custa de tantos incômodos e perigos, hei conhecido.”
O texto acima foi escrito por um tal Nicolau, aí por 1500 (estávamos, nosso Brasil, por sermos descobertos), e era endereçado a um certo monarca. Escrevia chamando a atenção de que à época era comum que se presenteassem príncipes com cavalos, armas, tecidos de ouro, pedras preciosas e outros ornamentos de mesma grandeza. Ele, como não teria posses, ofertava o que tinha de melhor: “o conhecimento das ações dos grandes homens aprendidos por uma longa experiência”.
Em minha atividade como executivo, mentor ou como consultor me deparo com um sem número de profissionais que desprezam estas formas de aquisição de conhecimentos. Claro, há que se ter presente que no mundo atual, e em especial na vida corporativa, ocorre com absurda rapidez a obsolescência das teorias e ideias e, portanto, de alguns textos, palestras ou opiniões.
Mas, mesmo assim, é possível que esses meios possam antecipar-nos vivências que teremos adiante e que outros já tenham experimentado e, assim, contribuem para que evitemos cometer erros, percamos tempo ou trilhemos caminhos que não nos levam a nada.
Claro que cabe a cada um de nós profissionais buscar produzir nosso próprio diferencial competitivo, mas não nos iludamos. Há necessidade extrema de que procuremos permanecer atualizados permanentemente.
Tendo isso em mente, vai o conselho de que não busquemos apenas fazê-lo, nos atualizarmos, à custa da experiência própria. Aceitemos a oferta que muitos nos fazem ao partilhar conosco seu conhecimento, como fez o Nicolau citado acima.
Ah, ia me esquecendo, esse tal Nicolau é o Nicolau Maquiavel, que em 1513 escreveu este preâmbulo à sua obra “O Príncipe” remetendo-o, o texto, ao “Magnífico Lorenzo filho de Piero de Médicis” uma das famílias nobres que dominavam a Itália e a quem ele queria presentear.
Que tal esta sugestão para começar? Esqueçam o que o senso comum diz desta obra – já que rendeu a criação do termo “maquiavélico” ou “maquiavelismo”, de sentido negativo e leiam-na com interesse, com atenção. Em especial recomendo àqueles que tenham na definição de estratégias um dos requisitos da sua atividade. Muito há para aprender ali como bem salientou o professor e executivo Romeo Busarello (ESPM/INSPER) em seu artigo “Mais Maquiavel e menos Porter”, que pode ser acessado na internet.
Ademais, a literatura em geral nos abre horizontes, nos faz pensar, e, para muitos, é uma boa forma de lazer e um relaxamento para estresses do dia.
Há textos clássicos, nacionais e de fora, que são imperdíveis de serem lidos.
Caros, por fim, fica um pedido meu: leiam sim, ouçam, assistam, mas procurem também formas de registrar e relatar as suas próprias vivências. Enfim, produzam textos e outros aprenderão com elas.